quinta-feira, fevereiro 18, 2016

Grãos

Ampulhetas e areias, tempo e relatividade. Hoje foi um dia sufocante, eu estava sentado no meu trono de areia, observando o escorrer dos minúsculos grãos que, por hoje, marcavam uma hora específica. Mudei os rumos, as leis. Sem autorização fiz planos e preparos, repaginei e sobrescrevi o futuro tantas vezes que as páginas desgastaram.
A areia custava a cair, a ansiedade me matava como uma falsa sede, que água alguma é capaz de saciar. O dia me aprontou todas, tentou por bem me desfocar deste momento, em vão.
E na chegada hora eu não pude apressar o tempo, então apressei o passo, somente para ver o desacelerar e, por alguns instantes, cessar, deste contínuo, ver o mundo refletir, descobrir que a Terra é um olho gigante que secretamente chora todas as noites sem ninguém perceber.
Os últimos grãos foram aqueles que juraram me levar junto à eles, ou rasgar parte da minha alma caso não conseguissem e como de fato fizeram. Um frio avassalador para me penetrar a espinha, talvez o bambear das pernas e aquele sentimento de desamparo.
Somente o desamparo ficou. Ele e o piscar de olhos. Além disso, nada além de caneta, papel e punho, um vinho para manchar, solitude para pensar, paisagem para me desarmar, liberdade para chorar.
Vazio para acalantar.

quarta-feira, julho 10, 2013

Razão

Após muito refletir, dei-me conta de certos fatos que estavam implícitas em questões que há muito incomodavam. Sempre tentei controlar meu lado sentimental sem conseguir, é verdade e dizem que não há como, este, provavelmente, também é um fato.
Acontece, na verdade, que parte minha deseja abraçar tais sentimentos, se permitindo viver e se arriscar de forma irresponsável, de forma inocente e pura buscante um bem estar superior ao simples cotidiano, em busca do amor, da paixão, daquela sensação de compartilhar sua vida com alguém e outra parte minha - e não que o quão grande ela é - possui ódio e completo nojo de tudo isso, de forma natural e sem preconceitos. Tal parte apenas deseja solidão e não viver mais nem alegrias, nem tristezas, para ela o amor e a paixão não passam de ilusões.
Comumente a minha parte crédula vence, grita e dá vazão aos sentimentos enquanto, sem querer, reprimo a parte incrédula. Eu não sei explicar como isso ocorre pois, pessoalmente, concordo com a minha parte incrédula, eu e ela partilhamos de forte repressão por essa fé cega que muitos chamam de amor e por essa razão, muitas vezes, acabo tendo ódio profundo de mim mesmo.
No geral é como se eu não tivesse, de fato, o controle do meu próprio corpo, há muito já estou farto desse assunto tão falado e gostaria, mesmo, de isolar tudo isso para assim manter foco naquilo que a sociedade tanto valoriza e que também gostaria de valorizar, mas não é assim.
Eu não sou um monstro por repudiar sentimentos, essa é uma escolha natural minha, assim como alguns escolhem não comer carne ou não fazerem sexo. Sou apenas mais uma vítima minha e da desaprovação geral, como se não houvesse vida sem  isso (e de certa forma não há).
Portanto, vivo em dois mundos: de amor e de neutralidade, onde o primeiro oprime o segundo em ditadura, causando a raiva que, por tanto tempo, questionei suas origens. Agora já possuo argumentos para me declarar tolo.

domingo, fevereiro 17, 2013

Sem títulos, sem avisos, sem cores.

 Sim, hoje o céu está de luto não está? Você sente isso não sente? É como e fosse por nossa causa, por essa falta de palavras, de atitudes, de tempo, de momentos. Talvez não seja a hora exata, o momento exato.
 Mas hoje o céu está de luto, justamente hoje que tudo parece ter se explicado e deixado claro. Hoje que parece que você se expressou e eu não te dei ouvidos (aparentemente), mas não é bem assim. Jamais deixaria de te ouvir ou de perceber seus movimentos. Você deve pensar "ele dizia que me conhecia tão bem e não vê isso...", mas eu vejo, eu sinto e fique sabendo que dói, mas não quero te ferir e nem te ver triste.
 Eu estou confuso sabia? Não sei o que sentir, como sentir, por quem sentir... não sei como me portar, não sei como agir. Eu fico sem graça... eu fico vazio e doendo. Talvez seja sua ausência. Como eu queria... como eu queria... e você sabe muito bem o que.
 Mas o céu está de luto não está? Negro, escuro, lamentando toda essa situação nossa. Hoje não haverá o céu púrpuro, não haverá calor na alvorada. Apenas o frio, a chuva e o luto. Assim mesmo sem avisos e sem cores... Como eu queria...
 Sinto como se os trovões fossem meus lamentos, o frio a falta do teu aconchego... e o céu está de luto em nosso nome. Arcanjos não precisam chorar, mas o fazem por uma boa razão...

sábado, janeiro 19, 2013

Obrigado

Obrigado por existir;
e por me permitir aproximar de vc.
Obrigado por ficar sem graça por minha causa;
por ter olhos tão doces para comigo.
Obrigado por ficar vermelhinha pensando em mim;
e com o coração acelerado com as coisas que digo.
Obrigado por ser sincera, mesmo que isso te deixe sem graça;
e mais ainda por tentar se superar só para atender ás minhas expectativas
Obrigado.

segunda-feira, dezembro 31, 2012

  Então é isso. O ano está acabando... Para mim passou totalmente em branco. Não realizei nada do que pretendia, e não foi por falta de tentativas. Continuo sentido-me vazio, continuo buscando algo que está faltando em mim. Para falar a verdade apesar dos desejos sinceros de feliz ano novo, não estou em clima de virada, estou longe de estar, estou longe até de mim mesmo, quanto mais dos outros, das festas, dos amores.
  Passei mais um ano me iludindo e me enganando, assim como todos os outros, sem alegrias, sem emoções, sem o frio na barriga que já não sinto há tempos. É bem verdade que todo ano peço a mesma coisa: um amor, algo que me faça sorrir, me sentir vivo, uma luz. Mas ao invés disso eis-me aqui na solidão do meu quarto, observando janelas fechadas e escuras, uma árvore apagada para meus olhos, nuvens vermelhas... solidão.
  Meu peito dói, minha alma está dilacerada, sem cores, sem vida. E francamente não creio que as coisas poderão melhorar. Não é algo que aparente estar sob meu controle. Daqui a pouco terei de sorrir, será que eles sabem o quanto isto é doloroso para mim? Chega a doer mais até que uma lágrima.
  O que houve esse ano? Nada especial, nenhuma conquista realmente válida, nenhuma meta alcansada. Só houveram perdas, perdas e mais perdas. A unica coisa que aprendi esse ano é que não suporto perdas. Apenas. Mas, apesar disso, as coisas continuam indo embora, pessoas, lugares, aromas, situações, sentimentos. 
  Na intimidade do meu quarto ao menos posso ser eu mesmo e me lamentar sem ser apontado, sem ser tachado de dramático, sem arrependimentos, sem vergonhas, sem franquezas. Se o mundo quer ver um coração de pedra eu nada posso fazer, além de fornecê-lo.